Instituto vence Prêmio Saúde Oncologia

04/06/2006
Noticia

A pesquisa sobre a cura do câncer de córtex adrenal em crianças, desenvolvida pelo Instituto Pelé Pequeno Príncipe - IPP (Curitiba-PR),foi a vencedora do Prêmio Saúde Oncologia América Latina, na categoria trabalho científico, promovido pela Novartis Oncologia e Aguilla Saúde. O resultado foi divulgado na noite de quinta-feira. O projeto do IPP concorreu com outros 170, de vários países da América Latina, como México, Argentina, Uruguai e Venezuela.

Os trabalhos e projetos foram avaliados por uma comissão julgadora, formada por cientistas e profissionais latino-americanos da área da saúde e terceiro setor. Levou-se em consideração para a análise dos trabalhos científicos o caráter inovador, a capacidade de reprodução e reversão para a prática clínica, o impacto fármaco-econômico e a adequação técnica e científica. Após um rigoroso processo de avaliação, foram selecionados dez trabalhos finalistas de cada categoria (projeto científico e projeto social). Desses, cinco trabalhos científicos e cinco sociais foram premiados.

A pesquisa

Coordenada pelo cientista Bonald C. Figueiredo, a pesquisa vencedora está disponibilizando aos recém-nascidos do Paraná um teste de DNA para identificação de uma mutação genética responsável pelo desenvolvimento do tumor de córtex adrenal.

A incidência desse tipo de câncer é bastante aumentada no Paraná e São Paulo, devido a uma mutação genética que praticamente só ocorre nesta região. Enquanto a literatura científica internacional apresenta a incidência da doença entre 0,2, e 0,4 por um milhão de crianças com até 15 anos, no Paraná a incidência é de 3,5 por um milhão de crianças nessa faixa etária. Sabe-se que alterações genéticas, chamadas mutações, são responsáveis por diversos tipos de câncer. Enquanto no resto do mundo a alteração genética responsável pelo aparecimento do tumor de córtex adrenal ocorre nos éxons de 2 a 8 do gene TP53, a mutação que ocorre no sul do Brasil está presente no éxon 10. Éxon é entendido como uma região dentro de um gene.

Embora esta mutação genética seja uma importante causa do aparecimento do tumor, ela não é a única. Vários outros fatores estão envolvidos na gênese do tumor. Por isso apenas 10% das crianças que possuem a mutação, vêm a desenvolver o tumor.

As crianças que apresentam a mutação passam a receber acompanhamento e caso venham a desenvolver o tumor, terão o diagnóstico feito precocemente, ampliando as chances de cura dos atuais 50% para 95%.

Como a pesquisa abrangerá todo o Paraná, a intenção é elaborar um sistema de processamento georeferenciado para cruzar dados e entender a relação entre os fatores ambientais e genéticos ligados a este tipo de câncer – que fica na parte cortical da glândula supra-renal, em cima de cada rim. "Esse tipo de pesquisa é inédita por ser feito com base em um teste de DNA e por oferecer acompanhamento de diagnóstico precoce e aconselhamento genético para crianças com teste positivo para a mutação" explica o cientista. "Além disso, a equipe do Instituto vai oferecer suporte e orientação aos médicos e pacientes de todo estado, de modo que as crianças portadoras da mutação possam ser acompanhadas e examinadas pelos médicos de sua preferência, em sua própria cidade, com toda a segurança.

Teste de DNA

O teste de DNA nos recém-nascidos é feito em uma gota de sangue, recolhido do pé da criança, da mesma forma que o já conhecido teste do pezinho. A diferença entre os dois é que para o exame de DNA, a coleta pode ser feita em qualquer momento enquanto a criança estiver na maternidade, sem a necessidade de se completar as 48 horas de vida. "Porém, para o bebê não passar por duas punções, sugerimos que o sangue seja coletado junto com o teste do pezinho", explica Figueiredo. Outra diferença é que o teste de DNA só é feito com autorização expressa da mãe da criança, que precisa assinar um termo de consentimento.

O teste começou a ser oferecido nas maternidades públicas e privadas de Curitiba (PR) em dezembro de 2005 e, gradativamente, está sendo estendido ao restante do Paraná. Num período de dois anos, o teste será oferecido a 360 mil crianças paranaenses.

A tecnologia utilizada para realizar a análise do DNA foi totalmente desenvolvida pela equipe de Bonald, o que permitiu a redução dos custos e a conseqüente viabilidade de aplicação em larga escala. Enquanto um teste de DNA normal custa em torno de R$ 400,00, a adaptação técnica feita pelos pesquisadores permitiu que o teste aplicado dentro dessa pesquisa fique em R$ 2,70. A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná é uma das parceiras do Instituto e está financiando a aplicação dos testes.

Salvando vidas

No Paraná são diagnosticados anualmente cerca de 15 casos de tumor de córtex adrenal em crianças e o índice de morte supera os 50%. Entre os sintomas estão o aparecimento de pelos na genitália da criança, acne, alteração no timbre da voz, ganho de peso e hipertensão. "Normalmente quando procuram atendimento médico os pais contam que os sintomas surgiram há mais de um ano. O diagnóstico tardio leva ao alto índice de mortalidade", explica Figueiredo.