Instituto vence Prêmio Saúde Oncologia
A pesquisa sobre a cura do câncer de córtex adrenal em crianças, desenvolvida
pelo Instituto Pelé Pequeno Príncipe - IPP (Curitiba-PR),foi a vencedora
do Prêmio Saúde Oncologia América Latina, na categoria trabalho científico,
promovido pela Novartis Oncologia e Aguilla Saúde. O resultado foi divulgado
na noite de quinta-feira. O projeto do IPP concorreu com outros 170, de
vários países da América Latina, como México, Argentina, Uruguai e Venezuela.
Os trabalhos e projetos foram avaliados por uma comissão julgadora, formada
por cientistas e profissionais latino-americanos da área da saúde e terceiro
setor. Levou-se em consideração para a análise dos trabalhos científicos
o caráter inovador, a capacidade de reprodução e reversão para a prática
clínica, o impacto fármaco-econômico e a adequação técnica e científica.
Após um rigoroso processo de avaliação, foram selecionados dez trabalhos
finalistas de cada categoria (projeto científico e projeto social). Desses,
cinco trabalhos científicos e cinco sociais foram premiados.
A pesquisa
Coordenada pelo cientista Bonald C. Figueiredo, a pesquisa vencedora está
disponibilizando aos recém-nascidos do Paraná um teste de DNA para identificação
de uma mutação genética responsável pelo desenvolvimento do tumor de córtex
adrenal.
A incidência desse tipo de câncer é bastante aumentada no Paraná e São
Paulo, devido a uma mutação genética que praticamente só ocorre nesta região.
Enquanto a literatura científica internacional apresenta a incidência da
doença entre 0,2, e 0,4 por um milhão de crianças com até 15 anos, no Paraná
a incidência é de 3,5 por um milhão de crianças nessa faixa etária. Sabe-se
que alterações genéticas, chamadas mutações, são responsáveis por diversos
tipos de câncer. Enquanto no resto do mundo a alteração genética responsável
pelo aparecimento do tumor de córtex adrenal ocorre nos éxons de 2 a 8
do gene TP53, a mutação que ocorre no sul do Brasil está presente no éxon
10. Éxon é entendido como uma região dentro de um gene.
Embora esta mutação genética seja uma importante causa do aparecimento
do tumor, ela não é a única. Vários outros fatores estão envolvidos na
gênese do tumor. Por isso apenas 10% das crianças que possuem a mutação,
vêm a desenvolver o tumor.
As crianças que apresentam a mutação passam a receber acompanhamento e
caso venham a desenvolver o tumor, terão o diagnóstico feito precocemente,
ampliando as chances de cura dos atuais 50% para 95%.
Como a pesquisa abrangerá todo o Paraná, a intenção é elaborar um sistema
de processamento georeferenciado para cruzar dados e entender a relação
entre os fatores ambientais e genéticos ligados a este tipo de câncer –
que fica na parte cortical da glândula supra-renal, em cima de cada rim.
"Esse tipo de pesquisa é inédita por ser feito com base em um teste de
DNA e por oferecer acompanhamento de diagnóstico precoce e aconselhamento
genético para crianças com teste positivo para a mutação" explica o cientista.
"Além disso, a equipe do Instituto vai oferecer suporte e orientação aos
médicos e pacientes de todo estado, de modo que as crianças portadoras
da mutação possam ser acompanhadas e examinadas pelos médicos de sua preferência,
em sua própria cidade, com toda a segurança.
Teste de DNA
O teste de DNA nos recém-nascidos é feito em uma gota de sangue, recolhido
do pé da criança, da mesma forma que o já conhecido teste do pezinho. A
diferença entre os dois é que para o exame de DNA, a coleta pode ser feita
em qualquer momento enquanto a criança estiver na maternidade, sem a necessidade
de se completar as 48 horas de vida. "Porém, para o bebê não passar por
duas punções, sugerimos que o sangue seja coletado junto com o teste do
pezinho", explica Figueiredo. Outra diferença é que o teste de DNA só é
feito com autorização expressa da mãe da criança, que precisa assinar um
termo de consentimento.
O teste começou a ser oferecido nas maternidades públicas e privadas de
Curitiba (PR) em dezembro de 2005 e, gradativamente, está sendo estendido
ao restante do Paraná. Num período de dois anos, o teste será oferecido
a 360 mil crianças paranaenses.
A tecnologia utilizada para realizar a análise do DNA foi totalmente desenvolvida
pela equipe de Bonald, o que permitiu a redução dos custos e a conseqüente
viabilidade de aplicação em larga escala. Enquanto um teste de DNA normal
custa em torno de R$ 400,00, a adaptação técnica feita pelos pesquisadores
permitiu que o teste aplicado dentro dessa pesquisa fique em R$ 2,70. A
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná
é uma das parceiras do Instituto e está financiando a aplicação dos testes.
Salvando vidas
No Paraná são diagnosticados anualmente cerca de 15 casos de tumor de
córtex adrenal em crianças e o índice de morte supera os 50%. Entre os
sintomas estão o aparecimento de pelos na genitália da criança, acne, alteração
no timbre da voz, ganho de peso e hipertensão. "Normalmente quando procuram
atendimento médico os pais contam que os sintomas surgiram há mais de um
ano. O diagnóstico tardio leva ao alto índice de mortalidade", explica
Figueiredo.